(este texto é um ensaio)
Sempre que tomo coragem pra fazer alguma coisa que me dá medo, penso: “Vai lá, Gabriela, do chão você não passa!” Nessas, quantos tombos catastróficos já levei… Os mais miseráveis são os que insistem em machucar justo no mesmo lugar da queda anterior, abrindo ainda mais a ferida que estava a cicatrizar.
Caio. Após o susto, levanto-me, ensanguentada, mancando, lágrimas jorrando dos olhos, certa de que aquela imensa dor jamais passará. Mas sempre passa. Quer queiramos, quer não, um dia tudo acaba, inclusive nós. É curioso que, embora saibamos que temos um fim, insistimos em acreditar que a nossa dor não. Isso não faz o menor sentido.
De tanto cair e me machucar, aprendi na marra que uma hora a ferida cicatriza. Acumulo em meu corpo uma série de marcas de quedas passadas, cujos registros servem pra não me deixar esquecer o quanto doeu. Sempre que olho pra elas, tento evitar cair de novo em cima do mesmo lugar pra não fazer uma cicatriz ainda mais feia. Em geral, tem funcionado. Quando fracasso, ao menos já sei que vai passar…
Sei que cair às vezes é inevitável, e saber que há um chão que sustenta o tombo ainda me apoia a criar coragem pra fazer mudanças na vida, apesar do medo. Porém, recentemente tenho tentado mudar um pouco o meu estímulo interior na hora de fazer as coisas. Se por um lado me apegar ao chão que sustenta minhas quedas me traz segurança, por outro, isso me limita. Hoje em dia, tenho pensado: “E se eu voasse?