Comecei recentemente a fazer o exercício de páginas matinais proposto por Julia Cameron no seu famoso livro O caminho do artista, que busca ajudar pessoas a destravarem sua criatividade. O exercício proposto pela autora é simples, mas exige dedicação: escrever três páginas de texto livre à mão em um caderno todos os dias pela manhã. Assista ao vídeo abaixo com minhas reflexões sobre a prática e, a seguir, leia a continuação do texto.

No primeiro momento, hesitei horrores. Como eu encaixaria MAIS essa prática na minha rotina matinal, que já inclui alongamentos, meditação, orações e exercícios físicos? 

Não acreditei muito em sua eficácia, mas me propus a fazer até mesmo para auxiliar os autores em minhas consultorias. Como recomendar o que nunca testei? Se não me adaptasse, bastaria parar. 

No primeiro dia, comecei brigando contra o relógio, literalmente: liguei o cronômetro para ver quanto tempo levaria na tarefa. Passados cinco minutos, ansiosa por seguir com o meu dia, resolvi parar. Mal me levantei, uma força sobrenatural surgiu daquele caderno me chamando de volta. O estrago já tinha sido feito.

Fazia tanto tempo que eu não escrevia um texto à mão que sequer consigo me lembrar da última vez. Creio que foi numa oficina de escrita autobiográfica em 2017. 

A escrita à mão é mágica. É um ato que exige calma e presença. Nossa postura diante da folha é de entrega. A gente se debruça sobre o papel, que recebe tudo o que temos. Não há como fugir da caneta, dos traços. Sentimos o cheiro da tinta, a espessura da folha. O contato da caneta com os dedos revelam nossa tensão interior. A caligrafia, nosso estado emocional.

Cameron pede para escrevermos o que vier à mente, sem elaborações. É preciso coragem para registrar tudo aquilo que pensamos. É um ato de descobrimento, uma autoanálise diária. O papel tem se tornado o meu melhor terapeuta. Nele passo a limpo questões internas, descubro soluções e, descarregada, saio mais leve.

Sacadas incríveis já surgiram até mesmo para o livro que estou escrevendo agora, sobre minha peregrinação pela Itália. Se você acredita que perdeu sua escrita em algum e deseja retomar sua posse, por favor, renda-se à escrita à mão.

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