Equatoriano sai para conhecer o mundo aos 18 anos e diz que sentido da vida é ‘viver com o menos possível’

Adrian dentro do ônibus antigo onde viajava pelo Brasil com amigos
Adrian dentro do ônibus antigo onde viajava pelo Brasil com amigos

Assim que completou 18 anos, o equatoriano Adrian Torrez, hoje com 23, pegou sua ‘trouxinha’ de roupas e deixou a casa de sua família para viver da forma que acreditava ser a melhor para ele: sem planos, sem objetivos, sem metas, sem certificados.

Saiu sem rumo, para conhecer as belezas mundo afora. “Fui andando assim na vida para viajar, mas eu nunca planejei viajar também. Foram acontecendo as situações na vida. Bateu vontade de conhecer outro país e outra cultura.”

Quem o vê por aí logo de cara o identificaria como um ‘hippie’: tem um rastafári nos cabelos, usa roupas coloridas e confortáveis e vende cordões e pulseiras feitas artesanalmente. Também faz malabares.

Disse que nunca gostou de frequentar a escola e estudou até a quinta série. “Não terminei porque eu não gostava. Sério mesmo. Era chato. Eu gostava muito de sair por aí”, explicou. “Eu saí sem nada, nada, nada. Tem que ter coragem.”

Nascido na cidade equatoriana de Guaiaquil, afirmou que tanto sua mãe e seu pai são formados. Tem ainda uma irmã por parte de pai e mãe e mais três irmãos só por parte do pai. Todos seguem morando na mesma cidade. “Meus pais achavam chato eu parar de estudar, eles são graduados os dois. Estudados. Mas eu não gostava desse rolê”, explicou. Ele me disse que fazia um ano e meio que não ouvia a voz de sua mãe, que falava com ela apenas por mensagem e pela internet.

Pela América do Sul

Desde que começou a viajar conheceu cidades do Peru, da Bolívia e do Brasil. Aqui já passou por uma parte da Amazônia, conheceu o Acre e o Pará. O transporte usado de um lugar para o outro varia de acordo com a situação. De ônibus, caronas na estrada e até barcos. “Na Amazônia conheci lugares massas, como o rio Tapajós, rio Negro e Solimões. Muito massa.”

Quando estava em Santarém, no Pará, conheceu um grupo de turistas argentinos que viajavam por aí em um ônibus antigo e se juntou a eles. “Conheci e fiz amizade com todos. Estamos em sete agora.”

Eu o encontrei dentro do ônibus, quando o grupo parou por um período na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Adrian me contou que, de lá, cada um seguiria seu rumo. Obviamente que ele não soube me explicar qual seria seu próximo destino. “Ainda não sei para onde vou.”

Me disse que não via problemas me viajar sozinho. Contudo admitiu às vezes passa por dificuldades e que as adversidades que apareciam no caminho acabavam por torná-lo mais forte. “Mas ai quando acontece faz você ficar mais forte, quando você está sozinho, fica mais forte.”

Uma das principais dificuldades encontradas no Brasil, por exemplo, foi o idioma. Apesar de entender bem o português, ainda falava o famoso “portunhol”.

Sentido da vida

Quando o perguntei sobre o sentido da vida Adrian demorou um pouco para dar uma resposta. Ficou em silêncio por um tempo e depois disse:

É tratar de viver com menos possível, nada mais. Só viver, tranquilo, relaxado. Não precisamos de muita coisa”, disse. “Cada vez a galera quer ter tudo, mas não cuidam de nada, não cuidam da terra, não vivem da troca, trocando uma coisa por outra”, afirmou.

Revelou que tem aprendido muito coisa na “escola da vida” que escolheu cursar.

“A vida é muito doida, aprendemos muitas coisas. Quando entrei no Brasil não entendia nada, achei difícil, agora já ‘acostumbrei’ um pouco já. O mais difícil foi a língua mesmo. Escutar e comuinicar para poder comer, comprar sua comida, essas coisas. E ai fui aprendendo mais coisas e evoluindo mais rápido”.

Eu perguntei a ele se sentia que as pessoas tinha aversão ao seu estilo de vida. “Lógico que tem esse preconceito, mas as pessoas tentam estudar, mas não tem conhecimento, as pessoas estudam para ter um papel, algo. Acham que são superiores a quem não tem estudo.”

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