Captador de recursos recebe um ‘sim’ a cada 100 ‘nãos’ e diz que sentido da vida é ajudar as pessoas

Elvisok
Elvis disse não se incomodar com os ‘nãos’ que recebe

Minha segunda-feira não tinha sido muito boa e resolvi me “dar de presente” um sorvete de chocolate para adoçar o fim do dia. Parei para tomar o sorvete numa mureta em frente a um banco na movimentada Avenida Paulista. Foi quando o árduo trabalho de um captador de recursos da Unicef me chamou a atenção.

Para quem não sabe, captadores de recursos são aquelas pessoas que ficam nas calçadas abordando os que passam na tentativa de conseguir doações para alguma entidade ou ONG.

Elvis Ferreira, de 29 anos, era persistente: “nossa, é para mim? não precisava!”, dizia a quem passava comendo alguma coisa. “Olá moça, você gosta de criança?”, perguntava vez e outra às mulheres que caminhavam apressadas. Muitos o deixavam falando sozinho. Alguns agradeciam e seguiam andando. Poucos paravam para ouvi-lo.

Ele já se preparava para ir embora e parou justo do meu lado para conversar com duas colegas de trabalho. Não exitei em perguntar:

– Você não fica chateado de receber tantos ‘nãos’ das pessoas?

“Não, porque a pessoa que me deu um não, ela não vai me ajudar, e sim aquela que parou para me ouvir. Essa sim pode me ajudar. A pessoa que me deu um ‘não’ não vai me ajudar em nada. Deixo ela ir embora, ela não vai ter nenhum peso sobre a minha vida profissional.”

Eu perguntei a Elvis quantos “nãos” ele recebia antes de conseguir um “sim”. Estimou falar com 300 pessoas para conseguir três que ajudam – ou seja, um “sim” a cada 100 “nãos”. “É abordando, ‘oi, tudo bem?’, até a pessoa parar”, explicou.

Formado em Educação Física, o captador de recursos me disse que dá aulas na rede pública de ensino, além de trabalhar como voluntário ensinando 150 crianças a lutar judô. Explicou que criou o projeto social para tentar ajudar as crianças carentes, tendo em vista que passou pela mesma realidade quando pequeno.

“Eu não tinha condição nenhuma e cresci num projeto desse. Então eu montei uma associação de judô e comecei a investir nas crianças. E também porque meus filhos fazem parte da comunidade carente, então para fazer a comunidade ficar um pouco melhor para os meus filhos viverem eu consegui trabalhar com essas crianças no meu bairro.”

Ele me explicou que gostava do cargo que ocupava. “A gente trabalha captando recursos para crianças carentes que estão em situação de risco ou numa situação que precisa ser melhorada.”

E para Elvis, o sentido da vida estava justamente em ajudar as pessoas. “Esse é meu ponto de ver. Eu hoje sou evangélico também, mas não só por isso, é ajudar vidas, pessoas”, afirmou.

“É mostrar o que é certo e o que é errado, ao menos dar um direcionamento às pessoas, porque todos nós somos falhos e a gente tem que achar o que é certo e o que é errado, o que a gente pode fazer de bom e de ruim para o país. Esse é o sentido da minha vida.”

Explicou, ainda, que o que o move para fazer as coisas são os filhos. Ao todo eram três, fora quatro enteados, totalizando sete. “Uma coisa que me move para fazer minhas coisas são meus filhos, isso me move. Mas eu acho que os sentido de você ajudar alguém não esperando nada em troca, de ajudar alguém para que essa pessoa se beneficie, é uma coias muito linda, eu sou uma pessoa muito besta para essas coisas.”

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