‘A gente se sente um Deus dentro da roupa de Papai Noel’, diz homem de 61 anos que trabalha como o ‘bom velhinho’

'Graças a Deus eu tenho 61 anos de idade e me não troco por ninguém de 20', diz Francisco
‘Graças a Deus eu tenho 61 anos de idade e me não troco por ninguém de 20’, diz Francisco

Francisco Alberto Di Sessa é mais uma daquelas pessoas que já fizeram de tudo um pouco para garantir o ganha pão no final do mês. E que continuam fazendo, mesmo depois de aposentadas. Começou a trabalhar moço, como funcionário dos Correios. Depois passou pelo departamento pessoal de várias empresas. Vendeu planos de saúde e materiais gráficos. Teve um petshop. E agora, aos 61 anos, descobriu mais um dom entre os inúmeros que a vida lhe trouxe: ser Papai Noel.

Garante que gostou de todas as profissões que já teve, mas é só quando fala sobre ser “o bom velhinho” que seus olhos ficam vermelhos e enchem de lágrimas. E explica o motivo: “A gente se sente dentro de uma roupa de Papai Noel um Deus. Mas sabe por que um Deus? Porque você alegra as pessoas que mais gosta de alegrar, que são as crianças. Você tira um sorriso de uma criança, você não calcula o valor que tem.”

Eu encontrei Francisco pelo Google. Digitei lá algo como “agência de Papai Noel”. Cliquei no primeiro resultado da busca. O empresário que atendeu me apresento a ele.

Francisco mora na Penha, na Zona Leste da capital, mas aceitou ir até um café na Avenida Paulista para me atender. Ele chegou disfarçado de gente normal, de calça jeans e camiseta. Mas a barriguinha de “chop”, os longos cabelos e a barba branca denunciaram que ele era o Papai Noel.

Na conversa, eu descobri que este é o primeiro ano que Francisco trabalha oficialmente na função. Há alguns anos ele ajudou um amigo do bairro a entregar presentes como o “bom velhinho”, mas não ganhava nada por isso. Neste ano, contudo, ele resolveu reviver os velhos tempos, deixou a barba crescer e procurou emprego de Papai Noel pela internet.

“Este mês de dezembro eu não vou ter tempo nem de dormir”, revelou. Obviamente, vai passar até a noite de Natal longe da família: estará muito ocupado entregando os presentes para as crianças em uma churrascaria.

“Eu vestido de Papai Noel me modifico. Eu não sou essa pessoa que você está vendo na sua frente”, contou, orgulhoso. “Tenho dom e tenho dicção. Então, quando eu entro eu me transformo. É um ‘Ho-ho-ho, Papai Noel chegou!! Vamos minhas crianças. Olha, o Papai Noel gosta de criança que estuda, quem estudou levanta a mão?”, imitou, sorridente.

Promessa

Guarda com carinho as cartinhas que recebe da garotada. Algumas escrevem “coisas bobas”, contou, outras pedem brinquedos. O maior “presente” que recebeu como Papai Noel até agora foi uma promessa. “Uma criança de seis, sete anos chegou perto de mim e falou assim: ‘toma Papai Noel’. Sabe o que ela colocou na minha mão? Uma chupeta. Ela prometeu que ia dar pro Papai Noel, é brincadeira?”, disse, emocionado.

Afirmou que sua função é sempre falar para os pequenos que entregará o presente que pediram. “Se o pai dela não pode dar o presente que ela me pediu, porque eu não sei como é a vida dela, ele que seja esperto e fale: ‘Ó, o Papai Noel está pobre. Ele pensou que poderia te dar aquele presente, mas ele não pode. Então ele te trouxe isso mas é de todo o coração’. Se ele quiser falar que Papai Noel não existe, também, fica a critério dele!”

Sentido da vida

Casado e com uma filha de 22 anos, Francisco me contou que só vai ficar “sossegado” na vida quando sua filha estiver caminhando com as próprias pernas – ela tem um salão de beleza, mas ainda não ganha o suficiente para se virar sozinha, explicou. “Às vezes eu penso assim. Caramba, a minha filha depende de mim, eu não posso morrer, porque se eu morrer quem é que vai fazer as coisas para a minha filha? Eu quero ser útil para ela.”

Sem a roupa do Papai Noel, contou que ganha apenas dois salários-mínimos de aposentadoria e que este ano passou por momentos difíceis com contas para pagar. O dinheiro que tem ganhado como “o bom velhino’ tem ajudado bastante a colocar tudo em ordem. É orgulhoso que ele fala que não tem mais nenhuma dívida.

“Às vezes tem alguém com 18, 19 anos que não consegue emprego (…). Graças a Deus eu tenho 61 anos de idade e não me troco por ninguém de 20”, afirmou.

Para ele, o sentido da vida é buscar viver com felicidade: “É conseguir tudo o que você quer, ser feliz, o resto a gente consegue. O sentido da vida é esperar que o seu coração bata por muito e muito tempo sem dar trabalho para os outros. Se eu, com 61 anos de idade, estou aqui numa sexta-feira conversando com você… Eu fiz questão de vir. Se alguém me ligar amanhã querendo alguma coisa minha, eu vou. Eu não vou parar.”

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