Jovem diz que sentido da vida é ser feliz e realizar o sonho de ser a 1ª Barbie negra humana do Brasil

2014-12-22 16.14.59
‘Eu vim para mostrar que eu posso ser uma Barbie, sim. E que eu sou inteligente, sim. Eu posso mudar.’

A cabeleireira Jéssica Cristina Santana, de 20 anos, sonha em ser reconhecida como a primeira Barbie negra humana do Brasil e, quem sabe, do mundo. Descobri o sonho de Jessie Cristina – o nome artístico dela – quando eu caminhava pelo Centro de São Paulo. Ela usava longos cabelos azuis, grandes brincos e uma delicada saia rosa com estampas. O visual chamou a minha atenção e resolvi conversar com ela.

Jessie me contou que investe tempo, dinheiro e abusa da criatividade para montar sua versão negra da clássica boneca loira. “Meu sonho é ser reconhecida como Barbie negra do Brasil, e talvez, possivelmente, do mundo.”

E o sonho não é em vão, justificou. Por trás dele está a revolta com os padrões de beleza preestabelecidos para os negros na sociedade. O intuito é provar que a mulher negra é tão delicada quanto a branca. Quebrar a imagem existente na sociedade que relaciona a mulher negra ao estereótipo de “gostosona”.

“O mundo quer colocar que a negra sempre tem que usar roupa colorida. Ela tem que ser gostosona. Ela tem que ter um black power porque, se ela tiver o cabelo liso, ela não está honrando a cor dela. Se ela colocar um cabelo loiro, ela está querendo pagar de branca”, explicou.

“Eu quero ser totalmente diferente de todas as negras. Mostrar para elas que elas podem colocar um cabelo colorido, colocar um outro tipo de roupa, de maquiagem, e vai ficar linda do mesmo jeito. Eu não vim só para mostrar minha bunda e fazer sexo, tá ligado? Eu vim para mostrar que eu posso ser uma Barbie, sim. E que eu sou inteligente, sim. Eu posso mudar.

Ela me disse que já teve cabelos de diversas cores e estilos, citando loiro, rosa, azul, com tranças, preto, verde, moicano. “Eu mudo de 15 em 15 dias. Ontem coloquei esse azul. Antes estava todo preto. Eu fiquei uma semana com todo preto. Antes eu estava toda loira.”

Vida difícil

Nascida na periferia de Diadema, no ABC Paulista, contou que sempre teve uma vida difícil, com pais distantes. Saiu cedo de casa, aos 16 anos, para “cuidar da própria vida”. Trabalha como cabeleireira na Galeria do Rock, no centro de São Paulo. Disse que faz alguns trabalhos como modelo também e canta rap.

“Eu trabalho só pelo meu sonho”, frisa. “Invisto em roupas diferentes. Sempre, sempre, sempre estou com um visual novo. Vou a brechós. Às vezes eu compro os acessórios, eu mesma faço a roupa. Eu mesma faço o brinco.”

Afirmou que faz fotos e posta na internet para ficar conhecida como Barbie humana. Disse que é comum existirem Barbies humanas loiras, mas garantiu que negra não há nenhuma. Contou também que publica tutoriais no YouTube de maquiagem de boneca. “Porque assim, tem tutorial só para meninas brancas. Para meninas negras não tem ninguém que insere elas.”

“Eu não acho que eu sou mais nem menos do que ninguém porque eu sou negra. Se eu colocar o cabelo liso eu não vou mudar a minha cor, tá ligado? Eu não preciso falar: eu tenho orgulho de ser negra, eu simplesmente sou, como você é simplesmente branca. O que vai contar é a minha atitude, a minha personalidade, a minha cor não vai mudar.”

Sentido da vida

E para Jessie, o sentido da vida é buscar a felicidade. “A gente percorre vários problemas, eu acho, para no final ser feliz (…). O sentido da vida é ser feliz, correr atrás do nosso sem olhar para o lado, sem olhar para a caminhada de ninguém, porque quando a gente olha muito para os outros, a gente acaba se esquecendo da gente.”

O sentido da vida é ser feliz. Realizar meu sonho. É o que me faz não usar droga, ir trabalhar, acordar cedo, enfrentar os problemas, para ir atrás do meu sonho. Se eu conseguir eu vou ser muito feliz.”

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