Enquanto o gênero literário de autoajuda auxilia muitos leitores a fazerem mudanças positivas em suas vidas, ele também carrega uma conotação um tanto quanto negativa para outros. Mas por que os livros de autoajuda são tão polêmicos? O principal motivo são as chamadas “fórmulas prontas” fornecidas em algumas dessas obras, como explico a seguir.
Escrevo este texto justamente porque o dilema em torno da expressão “livro de autoajuda” é presente entre as pessoas que procuram a Vidaria Livros interessadas em escrever um livro. Entre elas, existem tanto as que querem que suas obras sejam de autoajuda, como as que reforçam: “Só não quero que o meu livro pareça de autoajuda!”.
A origem da má fama
Para explicar o motivo da polêmica, recorro a um conteúdo que o psicanalista Christian Dunker me passou por e-mail, após eu perguntar a especialistas a origem da má fama dos livros de autoajuda.
De acordo com Dunker, “autoajuda é um gênero que se autonomiza e se desenvolve no início do século XX, basicamente ligado aos problemas evocados pela vida em sociedade de massas, a necessidade de interpretar novas formas de vida no trabalho, no desejo e na linguagem.” Segundo ele, o gênero ascende em paralelo com o declínio das narrativas morais e religiosas baseada no “exemplo a seguir”.
O especialista cita que o primeiro grande exemplo disso é a clássica cobra Como Fazer amigos e Influenciar Pessoas, publicada em 1936 por Dale Carnegie, que descrevia com simplicidade e eficiência como devemos agir para adquirir o então instável e misterioso valor que é o capital social.
Dunker destaca alguns dos conselhos contidos na obra: “Não critique, condene ou reclame”, “Dê apreciação honesta e sincera”, “Desperte na outra pessoa um desejo ardente” ou “Torne-se genuinamente interessado em outras pessoas, sorria, lembre-se que o nome de uma pessoa, seja um bom ouvinte, faça a outra pessoa sentir-se importante − e faça-o sinceramente”.
Paradoxo na literatura de autoajuda
De acordo com Dunker, todavia, há um paradoxo na literatura de autoajuda: ela frequentemente cria regras que só são úteis para quem não precisa delas como “regras”. Por exemplo: “Torne-se genuinamente sincero e interessado nos outros” é uma técnica para ganhar amigos e obter artificialmente mais poder, observou. Ou seja, quem já é genuinamente sincero e interessado nos outros não está buscando algo em troca com isso.
Com o passar do tempo, a função inicial da autoajuda, que era ser um manual prático de sobrevivência social, tornou-se em um instrumento para enfrentar a crise de sentido em um mundo cada vez mais caótico, perigoso e predatório. “As pessoas buscam fórmulas para que possam viver suas próprias vidas sob essas “regras”’, observou.
O grande problema, segundo Dunker, é que esses livros podem acabar sendo “um manual de desajuda” ou alienação para que alguém se afaste e evite o que é realmente decisivo, ou seja, autonomia para pensar, criticar e escolher sua melhor forma de lidar com os problemas práticos e com as escolhas morais que a vida nos coloca.”
O especialista escreveu, porém, que essas obras podem, sim, ser canais positivos. “Toda autoajuda realmente funciona, o problema é saber para que e para quem (…). Esse movimento de tratar seus problemas e enfrentar as dificuldades é benéfico, tudo depende do ‘modo de usar’”, afirmou.
Bons livros de autoajuda
A má fama dos livros de autoajuda surge justamente da leitura crítica de certos leitores, que observaram a existência das fórmulas prontas e passaram a questioná-las, uma vez que nem sempre servem ou funcionam para todos.
Porém, é importante filtrarmos o que serve para nós e entendermos que muitos livros de autoajuda são de ótima qualidade e, de fato, proporcionam reflexão e retornos positivos aos leitores.
O filósofo Mário Sérgio Cortella foi questionado, em uma entrevista à revista Istoé, sobre o fato de suas obras serem consideradas de autoajuda, respondeu que suas obras são provocações filosóficas. “Escrevo livros de autoajuda também, afinal escrevo sobre filosofia. A autoajuda nasce no Ocidente, com Sócrates como seu principal representante. E o lema socrático é ‘conhece-te a ti mesmo’ e esse é o princípio inteligente de autoajuda”, disse.
Cortella salientou, porém, que em alguns momentos a autoajuda ganhou um ar de banalização. “Uma parte da má literatura existe em qualquer área. Alguns dos meus livros estão no campo da reflexão pessoal. Não me incomodo com a palavra autoajuda. Ela pode ser banal, mas pode não ser. Se eu sou um formador de opinião, preciso chamar para mim aquele que está distraído, despertar a capacidade de viver de um modo que não seja robótico.”
Como escrever um bom livro de autoajuda?
Portanto, caso você esteja escrevendo seu livro e esteja preocupado com a má fama e caráter pejorativo dos livros de autoajuda, não se prenda a isso.
Observe apenas que você não está trazendo fórmulas prontas e se preocupe mais em dar exemplos reais como INSPIRAÇÃO e não como REGRA. Tenha em mente que nem tudo que serve para alguns, é útil para todos. Tendo essa responsabilidade, sua obra não correrá o risco de entrar para a lista dos livros de autoajuda chinfrins que circulam por aí.
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