‘A gente tem que sonhar’

Eliane não queria ser fotografa de jeito nenhum, então eu insisti e disse que ela não precisava olhar para a foto.

“Eu acho assim, a gente tem que sonhar, tem que tentar progredir para a frente. Que nem no meu caso, eu vim do sertão de Pernambuco, uma vida sofrida. Então, você chega aqui [em São Paulo], você quer subir, estar cada dia mais um pouquinho, de degrau em degrau…”

Foi assim que, depois de uns dez minutos de conversa, a ambulante Eliane Macena da Silva, de 40 anos, me respondeu o que, para ela, é o sentido da sua vida.

Ela estava vendendo água, sucos, refrigerantes e bonecos infláveis do lado de fora do Museu do Ipiranga – o que diz que faz todo final de semana, há mais de dez anos.

Eliane me disse que já teve dois empregos fixos na vida. Trabalhou dez anos em uma pensão, onde fazia de tudo, e outros nove em um buffet, onde também fazia de tudo! (entende-se por tudo limpar, arrumar, cozinhar etc).

Do buffet ela cansou e pediu as contas há seis meses. Agora, tem um novo desafio pela frente: quer fazer um curso de enfermagem.

“É, até que eu não tenho tanta vontade de exercer [enfermagem]. Mas assim, chega uma certa idade que tem coisa que você não consegue mais fazer, como faxina, por exemplo. A enfermagem é uma coisa que você consegue emprego onde quer que você for, não tem idade para exercer, e pode ajudar o próximo.”

Para fazer o curso, ela falou que tá esperando um pouco. Disse que custa uns R$ 370 por mês. Contou que tem três filhos para cuidar, dois meninos, de 18 e 20 anos, e uma menina de 13.

Como largou o emprego fixo, tá com medo de contar apenas com a renda das vendas que faz e não conseguir pagar o curso – ela vende também roupas de porta em porta durante a semana. “Eu vendo de tudo, só não vendo a mãe e o pai porque não dá…”

Disse que, com calma, vai procurar um outro emprego fixo no ano que vem para poder assumir com tranquilidade o curso de enfermagem. “Sabe como é, a gente não pode confiar com o ovo no cu da galinha…”

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